Estados Unidos
A posição do Partido Republicano sobre o aborto é simples: deve ser ilegal. Mas os defensores da reversão da lei Roe vs. Wade, que em 1973 tornou a interrupção voluntária da gravidez legal nos EUA, tendem a evitar propor castigar criminalmente as mulheres que a praticam, preferindo centrar-se nos médicos que o fazem. Uma posição que explica as críticas do próprio partido a Donald Trump depois de o magnata - e favorito à nomeação republicana para as presidenciais de 8 de novembro - ter defendido na MSNBC que quem pratique abortos ilegais deve sofrer "alguma forma de castigo". E nem quando Trump ontem recuou garantindo que "a mulher é a vítima neste caso tal como a vida no seu útero" as críticas se calaram. Atacado tanto pela favorita democrata Hillary Clinton como pelo principal rival republicano Ted Cruz, o milionário do imobiliário veio dizer que "o médico ou qualquer outra pessoa que pratique [um aborto ilegal] deve ser responsabilizado, não a mulher". Com o Supremo Tribunal a ser o único a poder ilegalizar o aborto nos EUA, as palavras de Trump vieram lançar uma onda de mal-estar entre políticos conservadores. Antigo democrata, o agora favorito à nomeação republicana tem sido criticado por no passado ter defendido o direito ao aborto. Uma posição que parece ter revisto de forma radical. "A minha posição não mudou - como Ronald Reagan, sou pró-vida, com exceções", afirmou Trump depois de as suas declarações iniciais terem sido consideradas "extremas" até pelos grupos antiaborto. "Os comentários do senhor Trump vão demasiado longe para o movimento pró-vida e para as mulheres que tiveram de tomar uma decisão tão triste como a de abortar", afirmou à BBC Jeanne Mancini, presidente do March for Life Education and Defense Fund. Para Ted Cruz, as declarações de Trump só provam que ele não refletiu sobre o assunto. "Muitas vezes negligencia-se o facto de que ser pró-vida não se refere apenas ao feto, mas também à mãe", sublinhou o senador do Texas. Já John Kasich, o governador do Ohio e terceiro e último na corrida à nomeação republicana, exclamou: "Claro que as mulheres não devem ser castigadas."